Só há humor onde há democracia

Comprei hoje o livro “Hay Gobierno?” dos cartunistas Claudius, Jaguar e Fortuna, lançado em 1964 pela Editora Civilização Brasileira. A obra conta com prefácio do então esquerdista Paulo Francis, que anuncia: “Aqui o leitor encontrará reveladas a prepotência, a ignorância e a mistificação, a santíssima trindade que preside o destino nacional.”. Reunindo charges feitas no pós-golpe, o livro é corajoso ao retratar a violência dos militares recém-chegados ao poder e as disputas que dividiam a sociedade, bem como a hipocrisia das classes dominantes. As charges são precisas e, como prova da qualidade dos autores, ficaram pouco datadas, mesmo referindo-se a eventos da década de 60, como o debate sobre as Reformas de Base e o golpe de 1º de abril. Até a orelha do editor, Mario da Silva Brito, cujo título é “só há humor onde há democracia” é foda: “saber rir é uma forma forma de inteligência, ou, em amplos termos, nobre maneira de expressar-se e expandir-se a liberdade de espírito. Os parvos e tolos, os broncos e grossos só conhecem a gargalhada boçal. Falta-lhes vivacidade e rapidez de apreensão, estão desprovidos do elemento essencial para a graça sutil – a inteligência, centelha que ilumina de júbilo os rostos e até todo o ser. (…) A burrice é triste. Inapelavelmente triste.”. Trata-se de um livro há anos-luz à frente no debate sobre o papel do humor numa democracia, e nos permite ver como certos arautos da liberdade de expressão estão mais próximos dos golpistas de plantão do que qualquer coisa.

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Uma resposta para Só há humor onde há democracia

  1. nelsonpec disse:

    Concordo!
    A essência do humor!!!

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